MODERNISMO BRASILEIRO

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CONTEXTO HISTÓRICO



Após os governos militares do início da república, os senhores rurais retornaram ao poder fortalecidos então pela poderosa política do “café”, que permaneceu até 1930. As cidades brasileiras cresciam, em particular a cidade de São Paulo, que conheceram uma rápida transformação em decorrência do processo industrial. 

Outro fator responsável pelo crescimento das cidades foi a 1ª Guerra Mundial. Aumentava o número de imigrantes europeus fugindo da guerra, que se dirigiam paras as zonas economicamente prósperas.

Nos centros urbanos existia uma larga faixa da população pressionada, por cima, pelos “barões do café” e pela alta burguesia, e por baixo, pelo operariado: era a pequena burguesia, de caráter reivindicatório, formada entre outros, por funcionários públicos, comerciantes, militares e profissionais liberais. São Paulo era espiritualmente muito mais moderna, fruto da economia cafeeira, e do industrialismo, estando em contato mais espiritual e técnico com a atualidade do mundo, inclusive das artes. E foi nesse cenário que surgiu o modernismo brasileiro.

O MODERNISMO NO BRASIL

O Modernismo Brasileiro é um movimento de amplo espectro cultural, desencadeado tardiamente nos anos 20 e nele convergiram elementos das vanguardas acontecidas na Europa antes da Primeira Guerra Mundial - Expressionismo, Surrealismo, Cubismo e Futurismo – que foram assimilados antropofagicamente em fragmentos justapostos e misturados, repercutindo fortemente sobre a cultura e a arte, sobretudo no campo da literatura, da música e das artes plásticas.



Ou seja, a proposta:do modernismo brasileiro foi o de defender a assimilação das tendências estéticas modernas internacionais para mesclá-las com a cultura nacional, originando uma arte vinculada à realidade brasileira. E o resultado do movimento fez com que os artistas conquistassem uma maior liberdade técnica e expressiva, rejeitando a arte do século XIX e as regras das academias de arte. 

ANTECEDENTES DA SEMANA DE 22 

São Paulo se caracteriza como o centro das ideias modernistas, onde se encontra o fermento do novo. Do encontro de jovens intelectuais com artistas plásticos eclodirá a vanguarda modernista. Diferentemente do Rio de Janeiro, reduto da burguesia tradicionalista e conservadora, São Paulo, incentivado pelo progresso e pelo afluxo de imigrantes italianos será o cenário propício para o desenvolvimento do processo do Modernismo. Este processo teve eventos como a primeira exposição de arte moderna com obras expressionistas de Lasar Segall em 1913, o escândalo provocado pela exposição de Anita Malfatti entre dezembro de 1917 e janeiro de 1918 e a 'descoberta' do escultor Victor Brecheret em 1920. Com maior ou menor peso estes três artistas constituem, no período heróico do Modernismo Brasileiro, os antecedentes da Semana de 22.  
Lasar Segall

Para se entender o processo do movimento modernista brasileiro é necessário olhar para o contexto das duas primeiras décadas do século: ainda muito presos ao academicismo e às influências francesas da belle époque, alguns jovens de São Paulo, intelectuais e artistas começam a sentir a necessidade de uma atualização das artes, ao mesmo tempo que, faziam uma busca de uma identidade mais nacional, através do retorno às raízes culturais do país. Estes anseios de modernização e de nacionalismo são desencadeados pela 1ª Guerra e pela proximidade dos festejos do primeiro centenário da Independência. 

A exposição de Lasar Segall, em 1913, apesar de não causar muita repercussão, vai sinalizar contatos com as vanguardas alemãs. Entretanto, será a exposição de Anita Malfatti, em 1917, que instiga os artistas e jovens intelectuais a se organizar como grupo e promover a arte moderna nacional, que terá lugar em São Paulo, embalado pelo progresso e industrialização acelerada, contando ainda com a presença maciça de imigrantes italianos- o que acaba facilitando a ausência de uma tradição burguesa e conservadora como a existente no Rio de Janeiro. 

Essa arte nova aparece inicialmente através da atividade crítica e literária de Oswald de Andrade, Menotti del Picchia, Mário de Andrade e alguns outros artistas que vão se conscientizando do tempo em que vivem. Oswald de Andrade, já em 1912, começa a falar do Manifesto Futurista, de Marinetti, que propõe “o compromisso da literatura com a nova civilização técnica”. 

A Semana de Arte Moderna de 22 é o ápice deste processo que visava atualização das artes, e a sua identidade nacional. Pensada por Di Cavalcanti como um evento que causasse impacto e escândalo. Esta Semana proporcionaria as bases teóricas que contribuirão muito para o desenvolvimento artístico e intelectual da Primeira Geração Modernista e o seu encaminhamento, nos anos 30 e 40, na fase da Modernidade Brasileira. 

A SEMANA DE 22

Um dos principais eventos da história da arte no Brasil, a Semana de 22 foi o ponto alto da insatisfação com a cultura vigente, submetida a modelos importados, e a reafirmação de busca de uma arte verdadeiramente brasileira, marcando a emergência do Modernismo Brasileiro.

A partir do começo do século XX era perceptível essa inquietação por parte de artistas e intelectuais em relação ao academicismo que imperava no cenário artístico. Apesar de vários artistas passarem temporadas em Paris, eles ainda não traziam as informações dos movimentos de vanguarda que efervesciam na Europa. As primeiras exposições expressionistas que passaram pelo Brasil - a de Lasar Segall em 1913 e, um ano depois a de Anita Malfatti – também não despertaram atenção; é somente em 1917, com a segunda exposição de Malfatti, ou mais ainda com a crítica que esta recebeu de Monteiro Lobato, que vai ocorrer uma polarização das idéias renovadoras. 

No artigo publicado no jornal, Monteiro Lobato, preso a princípios estéticos conservadores, afirma que “todas as artes são regidas por princípios imutáveis, leis fundamentais que não dependem do tempo nem da latitude”. Mas, Monteiro Lobato vai mais longe ao criticar os novos movimentos artísticos. Assim, escreve que “quando as sensações do mundo externo transformaram-se em impressões cerebrais, nós ‘sentimos’; para que sintamos de maneira diversa, cúbica ou futurista, é forçoso ou que a harmonia do universo sofra completa alteração, ou que o nosso cérebro esteja em ‘pane’ por virtude de alguma grave lesão. Enquanto a percepção sensorial se fizer normalmente no homem, através da porta comum dos cinco sentidos, um artista diante de um gato não poderá ‘sentir’ senão um gato, e é falsa a ‘interpretação que do bichano fizer um totó, um escaravelho ou um amontoado de cubos transparentes”. 

Em posição totalmente contrária à de Monteiro Lobato estaria, anos mais tarde, Mário de Andrade. Suas ideias estéticas estão expostas basicamente no “Prefácio Interessantíssimo” de sua obra Paulicéia Desvairada, publicada em 1922. Aí, Mário de Andrade afirma que: 

“Belo da arte: arbitrário convencional, transitório - questão de moda. Belo da natureza: imutável, objetivo, natural - tem a eternidade que a natureza tiver. Arte não consegue reproduzir natureza, nem este é seu fim. Todos os grandes artistas, ora conscientes (Rafael das Madonas, Rodin de Balzac.Beethoven da Pastoral, Machado de Assis do Braz Cubas) ora inconscientes ( a grande maioria) foram deformadores da natureza. Donde infiro que o belo artístico será tanto mais artístico, tanto mais subjetivo quanto mais se afastar do belo natural. Outros infiram o que quiserem. Pouco me importa”. (Mário de Andrade, Poesias Completas) 

Essa divisão entre os defensores de uma estética conservadora e os de uma estética renovadora, prevaleceu por muito tempo e atingiu seu clímax na Semana de Arte Moderna realizada nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo. Desta semana tomam parte pintores, escultores, literatos, arquitetos e intelectuais.




No interior do teatro, foram apresentados concertos e conferências, enquanto no saguão foram montadas exposições de artistas plásticos, como os arquitetos Antonio Moya e George Prsyrembel, os escultores Vítor Brecheret e W. Haerberg e os desenhistas e pintores Anita Malfatti, Di Cavalcanti, John Graz, Martins Ribeiro, Zina Aita, João Fernando de Almeida Prado, Ignácio da Costa Ferreira, Vicente do Rego Monteiro e Di Cavalcanti (o idealizador da Semana e autor do desenho que ilustra a capa do catálogo). 



As manifestações causaram grande impacto e foram muito mal recebidas pela plateia formada pela elite paulista, o que na verdade contribuiria para abrir o debate e a difusão das novas ideias em âmbito nacional. 

PRINCIPAIS GRUPOS E MOVIMENTOS MODERNISTAS BRASILEIROS

A partir da Semana de 22 surgem vários grupos e movimentos, radicalizando ou opondo-se a seus princípios básicos:

Manifesto da poesia Pau-Brasil

O escritor Oswald de Andrade e a artista plástica Tarsila do Amaral lançam em 1925 o Manifesto da Poesia Pau-Brasil, que enfatiza a necessidade de criar uma arte baseada nas características do povo brasileiro, com absorção crítica da modernidade europeia.

Movimento Antropofágico

Em 1928 Oswald de Andrade e Tarsila, levam ao extremo essas ideias do Manifesto Pau-Brasil com a publicação na Revista Antropofagia do Manifesto Antropofágico, que propõe "devorar", “digerir” as influências culturais estrangeiras e das técnicas importadas para impor o caráter brasileiro à arte e à literatura. reelaborando-as com autonomia, transformando o produto importado em produto exportável com a cara do Brasil

O nome do manifesto recuperava a crença indígena: os índios antropófagos comiam o inimigo, supondo que assim estavam assimilando suas qualidades. 

A ideia do manifesto surgiu quando Tarsila do Amaral, para presentear o então marido Oswald de Andrade, deu-lhe como presente de aniversário a tela Abaporu (aba = homem; poru = que come). 

Grupo Anta

Por outro caminho, mais conservador, segue o grupo da Anta, liderado pelo escritor Menotti del Picchia (1892-1988) e pelo poeta Cassiano Ricardo (1895-1974). 

Movimento Verde-amarelismo 

Fecham-se às vanguardas europeias e aderem a ideias políticas que prenunciam o integralismo, versão brasileira do fascismo.


“Só a antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente. Única lei do mundo”

Trecho do Manifesto Antropófago